quarta-feira, 22 de abril de 2009

e o circo torna a pegar fogo

Era uma vez um circo. Tinha muito em comum com outros circos, mas os excedia em atenções e liberalidades com a platéia. Periodicamente, por exemplo, a platéia agendava espetáculos particulares. Os mais requisitados para esses shows exclusivos eram os domadores de feras e malabaristas, mas invariavelmente havia uns palhaços no meio da moçada.

Eis que, um belo dia, a bailarina, sentimental e geniosa, decide inverter a ordem dos fatores. De agora em diante, quem marca o show somos nós. A bailarina, o equilibrista e o bobo nomeiam alguns palhaços para levar a cabo sua grande idéia. O circo tem dois personagens exclusivos, o homem-sabão e a mulher-quiabo, mas eles só observam a movimentação. Não participam da novidade. De tempos em tempos, convidam todos para as quintas temporadas da turnês.

A platéia se rebela. Que idéia ditatorial é essa de marcar a hora do show?! Alguém por acaso já ouviu falar em horário de cinema, teatro ou mesmo de médico?! Escândalo! Nada disso!

Confusão formada. A bailarina se desespera, culpa a dona do circo, grita, uiva e rodopia. Acaba a revolução. O cliente é quem tem razão. E os palhaços, bem... tomam mais uma vez...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

chicotadas


Justamente nessa semana que as chicotadas entraram no debate nacional, pensava eu solitariamente que não seria capaz de fazer piada com aquela atrocidade. Fiquei secretamente morrendo de inveja do Zé Simão que fez a piada do ano com as passagens aéreas dos deputados: ele, que só quer voar de AeroCâmara ou algo que o valha, sugere a criação de um Programa de Pilhagem.

Maravilha!

Eu, que não sou tão boa, vou ter que me conformar em compartilhar a mensagem que recebi, muito em consonância com os temas da semana, naquele site que veio a substituir o ENEM na minha vida. Vejam o que me disse o moço (bonitão, aliás):

"A Internet é muito semelhante a uma cidade grande. Quando nos aventuramos nela, podemos cruzar com os mais variados tipos de pessoas. Cabe a cada um selecionar as pessoas com quem vai interagir. Seu perfil me chamou a atenção. Não passeio pela Net para iniciar novos relacionamentos; quero apenas uma Dona!. Alguém que me domine em todos os sentidos. Posso me tornar teu escravo?"

Criatura, tá bem que eu sou mandona, um pouco autoritária e nada tolerante, mas vamos devagar com o andor que o santo, de barro, tomou um susto tão grande que quase se joga lá de cima! E o meu perfil chamou sua atenção?! Socorro!

Vejam o que ele procura:

"mulher bonita, inteligente, com gosto apurado para as artes, autoritária, mandona. Um Mulher complexa, densa como um vinho, que revela novas nuances, novas texturas a cada momento."

- aposto que estão pensando que vai indo bem, não é? 'o que mais você pode querer', devem estar pensando... e vejam como termina:

"Uma Mulher que me domine, pouco a pouco restrinja a minha liberdade, me tornando assim mais livre. Uma Mulher que me guie, descendo lentamente os degraus da submissão, até que um dia me tornarei uma mera sombra dela".

Saravá meu pai! Esse aí deve estar pegando trem no Rio de Janeiro todo os dias no horário do rush só para ver se sobram umas chibatadas...

domingo, 12 de abril de 2009

it runs in the blood

Outro dia, refletindo sobre esse meu jeitinho doce e meigo de ser, de repente, me dei conta de que o sarcasmo é congênito.

Uma sobrinha, perto dos dois anos, estava aprendendo a falar ao telefone. Muito prática e direto ao ponto, pegava o aparelho, botava no ouvido e disparava:

“Alô? Beijo, outro, tchau!”

Depois falam que eu é que sou muito pragmática!

Mas a verdadeira genialidade demora a se manifestar... Quinze anos depois, chega à casinha da montanha e observa: “mãe, olha aquela lagartixa gorducha e sem rabo!”

“é um perereca, filha...”

A outra sobrinha, por volta dos três, entrou na sala comendo uma banana quando a mãe recebia umas visitas. Poucos minutos depois, voltou comendo outra banana. Minha irmã fez o comentário brilhante:

“Filhinha! Comendo outra banana?!”

Dispara a menina, sem pestanejar:

“Não, é a mesma! É que eu desengoli, montei e estou comendo de novo”

terça-feira, 7 de abril de 2009

Contos do deserto


1-
Em Arica, cidade do norte do Chile, ao pé da montanha conhecida como o “morro de Arica” fica a “cueva del Inca”, uma caverna labiríntica que teria sido construída pelos incas para despistar os espanhóis, aqueles dóceis conquistadores, e adivinhem onde vai dar?
a) San Pedro de Atacama, que é ali do lado
b) Lago Titicaca
c) Machu Pichu, claro! Que nem São Tomé das Letras! Ninguém tinha me avisado que os maconheiros do Chile eram iguais aos do Brasil! E nesse labirinto deve estar o ET de Varginha, o Chupa-Cabra e o padre dos balões!!!

2-
Em Iquique, na mesma região, expedições recentes descobriram lagoas inteiramente desconhecidas. Apenas os nativos as conheciam e as mantiveram intactas por todos esses séculos porque elas têm algo muito especial: uma é verde, a outra é vermelha e a última é amarela. São conhecidas como as lagoas semáforo!
3-
Em Arica há uma igreja muito bonita, uma catedral que pode ser desmontada e levada para qualquer lugar. Surpreendentemente ela nunca saiu de lá, mas isso é outra conversa. O que ela tem de realmente especial é uma mesa que fica amarrada dentro da igreja.
A razão para isso é que, se for solta, a mesa começa a andar. E o mais sombrio é que, nessas voltinhas, ela para na frente de uma casa e é fatal: morre alguém da família. Então o padre teve a brilhante ideia de mantê-la presa.
“E, então, agora ninguém mais morre?”, pergunto.
“Não!”, responde, satisfeito, o moço que me contava os causos.
Genial! Agora já sei de onde o Saramago tirou a inspiração para as Intermitências da Morte...